As mulheres empreendedoras negras são a maioria em negócios brasileiros gerenciados por pessoas pretas. O Brasil está, segundo a Global Entrepreneurship Monitor (GEM), em 7º lugar na lista de países com mais empreendedores do mundo. Deste número, 51% são empreendedoras mulheres e 47% delas são mulheres pretas. Veja mais!
Nós sabemos que o empreendedorismo feminino tem crescido muito nos últimos anos, com resultados e números surpreendentes e que marcam uma nova era no mercado, no entanto nós também precisamos nos atentar ao outro lado desta moeda.
Se por um lado podemos testemunhar o crescimento de empresas fundadas por mulheres no Brasil, por outro também podemos perceber que ainda existe um abismo que se estende entre mulheres negras empreendedoras e as brancas, por conta da desigualdade, preconceito ou acesso à investimentos, empréstimos ou estudos, por exemplo.
O racismo estrutural constrói muros no empreendedorismo feminino e nos mostra que ainda há um longo caminho a percorrer e que não é necessário apenas vontade de trabalhar, mas também oportunidade.
Neste artigo, você pode conferir dados e desafios sobre o empreendedorismo feminio negro, mas também terá acesso a uma série de histórias inspiradoras para ver que, apesar de todas as dificuldades, as mulheres continuam lutando pelo seu espaço no mercado. Continue lendo!
Raiz do empreendedorismo feminino negro
O Instituto Locomotiva afirma que as mulheres negras estão à frente da maior parte dos negócios gerenciados por pessoas pretas.
No entanto, essa presença massiva se deve por dois fatores:
- a falta de igualdade no mercado de trabalho;
- e a tradição empreendedora das mulheres negras.
Quando falamos do segundo tópico, estamos nos referindo à nossa herança ancestral africana, onde, em muitas culturas, era da mulher o dever de cuidar da casa, incluindo a responsabilidade de assumir papéis econômicos.
Na Costa Ocidental da África, de acordo com a Revista Exame, as mulheres africanas eram responsáveis por grande parte do comércio, a fim de sustentar as suas famílias.
Mesmo que o termo afroempreendedorismo ou empreededorismo feminio negro sejam termos recentes no nosso vocabulário, esta atividade já vem sendo exercidas pelas mulheres africanas há muitos anos e herdado às mulheres brasileiras.
Empreendedorismo feminino e negro no Brasil
No Brasil, o empreendedorismo feminino negro é representado por 51% das mulheres negras, que, mesmo antes da pandemia, já recebiam a menor renda média: cerca de R$ 1.384.
Ainda que sejam dados assustadores e apresentem o abismo entre as mulheres brancas e negras, os últimos anos também foram marcados por um largo crescimento no mercado para as mulheres pretas.
Isso está estampado no setor de beleza, por exemplo, onde facilmente podemos notar o crescimento das opções de itens para cabelo, maquiagem, acessórios, salões especializados em cabelo crespo e pele preta, entre outros.
E mais do que isso: muitos estudos também têm comprovado que o poder de compra das pessoas pretas têm crescido. Por isso, o investimento em negócios e produtos para esse grupo de pessoas pode ser bastante promissor, de acordo com o Sebrae.
Portanto, apesar dos inúmeros desafios, as oportunidades também têm surgido, potencializando o poder já existente das mulheres negras empreendedoras.
Mulheres negras empreendedoras: desafios
Em 2021, a Feira Preta e o Instituto Locomotiva Brasil criaram a pesquisa Potência Negra a fim de entender um pouco mais sobre o empreendedorismo negro no Brasil.
Um dos dados coletados, mostra que para 64% das pessoas negras o principal desafio no empreendedorismo ainda é a disponibilidade de dinheiro, enquanto 34% afirma que, além do dinheiro, o acesso aos estudos também é um desafio, já que apenas 13% dos respondentes possuem ensino superior.
Estes dados mostram que o empreendedorismo negro ainda caminha por estradas esburacadas, ou seja, tendo que lidar com os desafios de empreender e o acréscimo da falta de dinheiro, o difícil acesso aos estudos e o preconceito.
E quando falamos das mulheres negras empreendedoras, então, o Sebrae (2021) afirma que elas são 47% das empreendedoras brasileiras. Sendo que, em sua maioria, escolheram empreender por falta de emprego, de acesso e das desigualdades no mercado de trabalho.
Em outras palavras: uma escolha por empreender por necessidade e não por oportunidade.
Mulheres, negras e empreendedoras para se inspirar
Adriana Barbosa (Feira Preta e PretaHub)
Adriana Barbosa é CEO da Preta Hub e Presidente da Feira Preta. Ela fundou as duas iniciativas a partir do exemplo da sua avó que vendia doces e marmitas para ajudar nas contas de casa e colocava a neta para ajudá-la a distribuir panfletos, instalar faixas e divulgar os produtos.
Atualmente, o PretaHUB atua com pesquisas, mapeamento e aceleração do empreendedorismo e consumo negro do Brasil.
Enquanto o Feira Preta se trata de um festival que promove o diálogo entre diversas manifestações culturais e artísticas e é considerado o maior evento de cultura negra da América Latina.
De acordo com ela:
“O Brasil negro é empreendedor em sua essência, esse é o maior legado dos povos africanos para o país. O grande desafio é transcendermos da necessidade para oportunidade. Somos a maioria como microempreendedores e precisamos ser maioria como empresários em médias e grandes empresas. O teto de vidro do micro precisa quebrar. Está na hora de essa gente preta mostrar o seu valor.”
Fernanda Ribeiro (Conta Black)
Fernanda Ribeiro é fundadora da Associação AfroBUsiness, iniciativa que tem o objetivo de gerar conexões entre empreendedores negros, promovendo a sustentabilidade dos seus negócios e também a movimentação econômica.
E também é co-fundadora da Conta Black, um hub de produtos financeiros alocados em uma conta digital, com o objetivo de fazer com que o dinheiro não circule apenas entre os brancos e também para que os empreendedores pretos tenham acesso à ferramentas financeiras.
Tati Santarelli (TeamHub)
Tati Santarelli atuou com práticas sociais e trabalhava com dependentes químicos em recuperação nas favelas de Belo Horizonte, passou pelo mundo corporativo tradicional e em seguida fundou a TeamHub, onde, atualmente, é sócia, co-fundadora e CEO.
A TeamHub é uma startup de tecnologia para gestão de cultura organizacional que, recentemente, recebeu um investimento do fundo “Semente Preta”, do Nubank, destinado a impulsionar empresas fundadas por pessoas negras.
O propósito da startup é ajudar as empresas a contratarem candidatos por meio de identificação cultural entre as pessoas e a organização e também permite atuar em pontos sensíveis da cultura da empresa, melhorando o ambiente de trabalho.
Rachel Maia (RM Consulting)
Rachel Maia já atuou como CEO e conselheira em grandes empresas, como a Tiffany & Co, Novartis, Pandora e Lacoste.
Com isso, ela ingressou em um grupo muito restrito de 0,4% de executivas negras nas maiores organizações do Brasil e também foi eleita pela Revista Forbes como uma das 40 mulheres mais poderosas do Brasil.
Atualmente, com base na sua experiência de 28 anos, Rachel presta consultoria por meio da sua própria marca, a RM Consulting.
Ela atua como conselheira em diversidade e inclusão, presta consultoria no mercado do varejo e do luxo e também faz palestras sobre empoderamento pessoal e liderança para diversas organizações.
Gabriela Chaves (NoFront)
Gabriela Chaves é mestre em economia polícia mundial e fundadora da plataforma NoFront, que promove o empoderamento econômico das pessoas negras e periféricas com letras dos Racionais MC’s.
De acordo com a Gabriela, ela percebeu que investir não era só coisa de gente milionária. Quando ela voltava pra casa, via pessoas endividadas e então entendeu que, na verdade, não haviam ensinado o preto a mexer com dinheiro.
Com essa ideia nasceu o NoFront, que está no mercado desde 2018, e promove cursos, consultorias, palestras e workshops pelo Brasil, além de produzir um podcast e vídeos para um canal no YouTube.
Heloísa Assis (Rede Beleza Natural)
Heloísa Assis, ou apenas Zica Assis, começou a trabalhar como babá aos 9 anos e como faxineira, tendo que abrir mão do seu cabelo black power a pedido da sua patroa e foi obrigada a alisá-lo.
Em 1993, ela vendeu um fusca que o marido usava para trabalhar como taxista e fundou o Beleza Natural, salão especializado em cabelos crespos, cacheados e ondulados que, posteriormente, acabou se tornando a maior especializada nesse tipo de cabelo.
Atualmente, a Rede Beleza Natural já conta com 34 unidades, dentre institutos e quiosques no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, São Paulo e Minas Gerais e também uma fábrica própria, a Cor Brasil.
Além disso, a rede também conta com mais de 300 mil clientes e uma equipe de 2.000 colaboradores.
A Rede oferece mais de 20 tipos de serviços profissionais pensados para esse tipo de fio, além de hidratações, cortes, colorações, nutrições e mais de 60 itens de uma linha de produtos naturais.
Tayná Trindade (Uzuri)
Tayná Trindade é fundadora da Uzuri, uma grife de acessórios femininos que faz alusão às jóias de crioula.
Tayná conta que trabalhar com as mãos a livrou de uma depressão e abrilhantou a sua carreira como estudante de história da arte.
A marca faz referência ao que não é convencional com toques de ancestralidade e, atualmente, possui coleções que transitam entre o exagero e o glamour para empoderar e aumentar a autoestima de mulheres pretas.
Elisa Lucinda (Casa Poema)
Elisa Lucinda é jornalista e atua no teatro, cinema e TV. Em 1994, ela lançou o seu primeiro livro de poesias, chamado O Semblante, que também foi inspiração para uma peça de mesmo nome e que esteve em cartaz por 6 anos no Brasil e no exterior.
Ela também foi ganhadora do prêmio especial do júri do Festival de Cinema de Gramado e premiada pelo filme A Última Estação, onde protagonizou o personagem Cissa.
Atualmente, Elisa é fundadora da Casa Poema, uma instituição de ensino que tem o objetivo de trabalhar a poesia dita de maneira informal como uma conversa, aproximando-a do cotidiano e estimulando o fazer poético.
A Casa oferece cursos, oficinas e trabalha com projetos sociais em parceria com o governo e instituições privadas.
Nina Silva (Movimento Black Money)
Nina Silva é Executiva de TI há 20 anos, especializada em Transformação Digital, escritora, mentora de negócios e considerada uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil, de acordo com a Revista Forbes.
Atualmente ela faz parte do conselho do CECAP – Centro de Altos Estudos em Controle e Administração Pública do Tribunal de Contas da União, atua no grupo de Market Specialists para a multinacional SAP, escreve na coluna da MIT Sloan Review e UOL Economia e também é CEO e uma das fundadoras do Movimento Black Money.
O Movimento Black Money, ou apenas MBM, é um agente de desenvolvimento do ecossistema afroempreendedor e tem o objetivo de estimular o desenvolvimento do mindset inovador de empreendedores e jovens negros para a criação de novas ideias, soluções e diferenciais competitivos no mercado.
Hoje o MBM tem o foco em comunicação, educação e mídias, produz conteúdos nas áreas de inovação, tecnologia e finanças e também oferta cursos de curta duração nas áreas de marketing, gestão e tecnologia.
Este artigo inspirou você e também ajudou a entender a importância da mulher negra e a potência do empreendedorismo negro no Brasil? Nós esperamos que sim!