O movimento Black Money conecta pessoas negras de diversas profissões e fomenta o empreendedorismo negro. Dessa maneira, fortalecem a circulação de recursos financeiros nesta comunidade.
Você sabia? Os negócios criados por pessoas pretas movimentam mais de 1 trilhão de reais por ano somente no Brasil. No entanto, um trabalhador branco ainda ganha 40% a mais do que os trabalhadores pretos.
E a desigualdade não para por aí, enquanto o país conta mais de 50% da população autodeclarada preta, o dinheiro ainda permanece alocado entre as pessoas brancas e poucos são os pretos que conseguem chegar no topo dessa pirâmide.
Para entender mais sobre este assunto, é preciso discutir a fundo, conhecer o outro lado dessa moeda e contribuir para o crescimento do afroempreendedorismo.
É neste sentido que surge o Movimento Black Money, uma iniciativa que tem a missão de virar a mesa e colocar o negro como protagonista da sua história.
Mas, muito além disso, também tem o objetivo de fazer com o que dinheiro não esteja preso em uma pequena parcela de pessoas, mas que também circule pelo povo preto.
Antes de discutir sobre esse movimento, é preciso entender: o que é o black money e por que ele é tão importante para o empreendedorismo brasileiro? Continue lendo e veja mais sobre este assunto!
O que é Black Money?
Não é novidade que a desigualdade no Brasil continua gigante. De acordo com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, 70% das pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social ou extrema pobreza, são pretas e pardas.
Esses números acabam refletindo também no mercado de trabalho, onde, de acordo com o IBGE, menos de 30% dos cargos gerenciais são ocupados por pretos e pardos.
E falando em dinheiro, a maioria dos funcionários pretos vivem uma enorme discrepância salarial, onde recebem o valor médio mensal de R$ 1.608, enquanto a média salarial das pessoas brancas é de R$ 2.796, para o mesmo cargo e funções.
É neste contexto que surge o Black Money ou, em tradução livre, “Dinheiro Negro” ou “Dinheiro Preto”. Esse termo já existia há muitos anos nos Estados Unidos e foi ressignificado recentemente por movimentos de luta afrodescendente para que pudesse trazer outro significado.
Portanto, o Black Money se trata do dinheiro que circula entre as pessoas pretas e tem o objetivo de retirar a concentração da renda entre as pessoas brancas, redistribuir entre as pessoas negras e diminuir as desigualdades.
E, além disso, o Black Money também é um incentivo para contratar e comprar de pessoas pretas, empoderando empreendedores e fazendo o dinheiro circular.
Como funciona o movimento Black Money?
O movimento Black Money é pioneiro no Brasil e foi fundado por Nina Silva, que é especialista em Transformação Digital, escritora, mentora de negócios e considerada uma das 20 mulheres mais poderosas do Brasil.
Depois de 17 anos de experiência no mercado, observando homens brancos ocuparem a grande parte das posições de poder nas empresas, ela decidiu mudar essa lógica discriminatória.
De acordo com a própria Nina, via Metrópoles:
“Por mais que eu tivesse uma performance melhor, homens brancos recebiam salários mais altos. Havia mulheres brancas, ainda que poucas. Homens negros quase não eram vistos. Mulheres negras, nem pensar.”
“Sentia a necessidade constante de pontuar que aquele lugar era meu por direito. Já passei por clientes duvidando de que eu fosse a gestora do projeto, perguntando se eu não era a recepcionista. Questionando porque eu trabalhava com um sistema de tecnologia alemão, quando deveria estar procurando um marido por lá. Meu currículo chegava na frente e a figura chegava depois. Quando as pessoas me viam, demonstravam seu real preconceito.”
Neste contexto, surgiu o Movimento Black Money, como uma maneira de desenvolver o mercado afroempreendedor e estimular o desenvolvimento do mindset inovador de empreendedores e jovens negros para a criação de novas ideias, soluções e diferenciais competitivos no mercado.
O projeto tem foco em comunicação, educação e mídia, mas também foca na produção de conteúdo sobre inovação, tecnologia e gestão financeira, além de oferecer cursos livres e curta duração sobre marketing, gestão e tecnologia para pessoas negras empreendedoras.
Negros na economia brasileira
A representatividade do povo preto na economia brasileira vai muito além de uma “proposta bonita”, mas é também uma questão econômica, visto que mais da metade da população brasileira se auto declara preta ou parda, segundo o IBGE.
Isso significa que a diversidade precisa sair da teoria no papel e partir para a prática, dentro do ambiente corporativo e também no empreendedorismo, onde há muito mais homens brancos dominando.
Para a economia brasileira ser, realmente, diversa, o negro também precisa ser o protagonista dessa história, ser dissociado do trabalho braçal e reconhecido como capaz de executar um trabalho intelectual.
Enquanto o topo da pirâmide não enxergar que a base dela, composta principalmente por pessoas pretas, também tem talentos e um potencial imenso, então o mercado continuará a perpetuar uma narrativa que apaga mais de 100 milhões de pessoas brasileiras e que não considera nem mesmo os 22% de brasileiros negros que fazem parte da classe A.
A economia brasileira ainda tem muito o que aprender com o povo preto que veio da quebrada e usa o seu talento para crescer, mesmo que seja se virando com nada.
Maneiras de incentivar o afroempreendedorismo
Existem algumas maneiras de ajudar a propagar e incentivar as pessoas negras empreendedoras. Veja algumas delas:
Saiba quem são as pessoas empreendedoras negras da sua cidade
Talvez seja aquela lojinha da esquina, o mercadinho próximo da sua casa ou a moça que vende artesanato pelo Instagram. O importante é saber quem são os donos dos negócios que estamos acostumados a frequentar diariamente.
Desta vez, vamos observar onde os empreendedores pretos estão e escolher, conscientemente, onde gastar o nosso dinheiro.
Portanto, comece aos poucos pelo seu bairro e observe criticamente os negócios da região e quem são os empreendedores pretos que vivem perto de você.
Divulgue as pessoas empreendedoras pretas que você admira
Além de comprar com as pessoas pretas, procure também ajudar a divulgar eles para os seus colegas, amigos e conhecidos.
Você pode indicar aquela manicure para suas amigas, compartilhar fotos da comida que você experimentou na padaria ou compartilhar o cartão de visitas do pedreiro ou encanador que foi resolver um problema na sua casa.
Esta atitude, apesar de parecer pequena, ajudará aquele pequeno empreendedor a alcançar novas pessoas e crescer financeiramente em um mercado que anda cada vez mais competitivo.
Se você também for uma pessoa empreendedora, então, pense sobre a possibilidade de fechar parcerias com empreendedores negros e unir forças em uma aliança que será benéfica para ambas as partes, a fim de aumentar as suas carteiras de clientes, divulgar as duas marcas e, é claro, fechar um negócio duradouro e a longo prazo.
Se tiver uma empresa, contrate funcionários e fornecedores negros
Mesmo que você tenha uma pequena empresa, pense sobre contratar colaboradores e fornecedores negros para a sua loja.
Além de ajudar a gerar uma renda para esta pessoa, você também estará contribuindo com o black money, diversidade e inclusão no seu negócio o que, com certeza, também será bem visto por clientes, parceiros ou investidores.
Estude, pesquise e, principalmente, ouça
É importante destacar que este artigo não é suficiente para você entender tudo sobre o afroempreendedorismo ou o black money. É importante sair da sua bolha, estudar, entender a origem das coisas e, é claro, ouvir o povo preto.
Coloque-os no centro da conversa e deixe com que eles falem por si próprio. É uma atitude simples que ajudará uma pessoa preta a se destacar ou ter mais confiança em si mesma e no seu trabalho.
E, é claro, você só tem a ganhar ao falar menos e ouvir mais.
Futuro do Black Money no Brasil
A comunidade negra tem se mobilizado nos últimos anos para criar ambientes, gerar oportunidades e ocupar espaços que antes eram ocupados apenas por pessoas brancas, a fim de normalizar essa ocupação em lugares de poder, cargos de liderança e inovação.
Esse é o futuro do black money e também do afroempreendedorismo no Brasil. Uma busca constante por ocupar um lugar que também é, por direito, da pessoa preta e inclui o acesso à educação de qualidade, suporte para desenvolvimento de ideias, marcas e negócios, fortalecimento econômico e iniciativas para fomentar a nova economia.
Nina Silva comenta sobre esse futuro, via Rock Content:
No eixo de educação, eu desejo que o braço do Movimento Black Money torne-se um marketing place com uma ampla programação de cursos, além de um e-commerce destinado a venda de produtos e serviços exclusivamente criados e desenvolvidos por empreendedores negros.
Vamos tornar os programas Start Blackup e Afreektech itinerantes e rodar outras cidades do país. Nós queremos circular outras formas de valor entre a comunidade, não apenas o dinheiro, mas também o capital intelectual que esses afroempreendedores possuem. Desejo que as pessoas negras se vejam também no papel de investir no Brasil.
No futuro queremos criar uma verdadeira cadeia de suprimentos, porém isso só vai acontecer quando formos donos dos meios de produção. Nosso desejo é reter pelo menos 30% da riqueza como incentivo para empreendimentos criados e geridos por afroempreendedores. Todos podem contribuir para isso, seja doando seu tempo como mentor ou ministrando um curso, por exemplo. É uma transformação que está acontecendo e vai mudar o país nos próximos anos.
E essa transformação já vem mostrando que o futuro do black money é gigante, afinal estudos, projetos e oportunidades geradas já nos mostram que os afroempreendedores têm muito a oferecer em questão de serviço de qualidade, assertividade, competência e inovação.
Agora que você já entende o que é o black money, como ele impacta no empreendedorismo e qual é a sua importância, chegou a hora de entender como trabalhar este assunto na sua empresa, certo?
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